A ecpirose ainda é possível

Dentre as cosmologias atuais fora do padrão — aquelas que “dispensam” o big bang como o início do cosmo —, a cosmologia ecpirótica tem sido a mais estudada e desenvolvida. Surge no início deste século, com o trabalho de Khoury, Ovrut, Steinhardt e Turok [1], tendo o intuito de eliminar o problema da singularidade inicial (o big bang) do horizonte da pesquisa cosmológica. A cosmologia ecpirótica descreve o big bang apenas como a transição entre uma fase de contração cósmica e uma fase de expansão (a atual fase). Seu nome vem da filosofia estoica, de acordo com a qual o cosmo sofreria períodos de destruições periódicas. Ecpirose significa conflagração universal. De tempos em tempos, tudo é consumido pelo fogo, de acordo com os filósofos da Stoa. Na atual cosmologia ecpirótica, a lenta fase de contração, que antecedeu a atual fase expansão, resolve alguns problemas cosmológicos, como a homogeneidade, isotropia e a planaridade cósmicas, utilizando, por exemplo em suas últimas versões, dois campos quânticos extras (campos escalares). Ou seja, a descrição do cosmo nessa fase, na ecpirose, é realizada totalmente pelo campo gravitacional e dois campos escalares. Outro grande feito dessa cosmologia científica atual é a capacidade de bem proporcionar uma descrição para a origem da formação de estruturas (como galáxias) por meio das chamadas perturbações cosmológicas. Atualmente, todo bem sucedido modelo cosmológico deve descrever a origem das estruturas cósmicas. Assim como na cosmologia padrão (aquela em que o big bang é “inevitável”), na cosmologia ecpirótica o mecanismo de geração das perturbações cosmológicas pode se adequar aos últimos dados da mais recente fonte de informações cosmológicas: o telescópio Planck (veja, por exemplo, [2]). Ou seja, a cosmologia ecpirótica não está descartada, a ecpirose pode ainda estar em nosso horizonte.

Referências bibliográficas (textos técnicos)
[1] J. Khoury, B. A. Ovrut, P. J. Steinhardt, and N. Turok. The Ekpyrotic Universe: Colliding Branes and the Origin of the Hot Big Bang. Physical Review D, vol. 64, 123522, 2001.
[2] Angelika Fertig, Jean-Luc Lehners, and Enno Mallwitz. Ekpyrotic Perturbations With Small Non-Gaussian Corrections, 2013, arXiv:1310.8133v2.

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