República

Na semana do bicentenário da independência, aquilo que mais me chamou a atenção foi a república. A nossa, que muitas vezes parece não existir, e a do Reino Unido, que não existe, já que seu povo vive numa monarquia.

O moralista e os palavrões

Não sei se é um erro ou uma avaliação precipitada… No entanto, tenho notado um conservadorismo, um moralismo entre jovens. Piadas, que há vinte anos causavam risos, hoje em dia são censuradas. Os tipos mais usados nas piadas são agora rejeitados.

Ciência como máscara

O maior problema de uma máscara é não se reconhecer como tal. A ciência, por exemplo, é tida, geralmente, como aquilo que está por trás da máscara. Mas por trás da máscara não há nada. Arte, religião, filosofia e ciência são imagens ou máscaras criadas — mundos criados para negar ou afirmar o vir-a-ser. Ainda vejo uma ciência que pode afirmar e enxergar-se como máscara; para esta ciência alegre, como um sábio a chamou, qualquer noção de imutabilidade, estabilidade, ou seja, de verdade no sentido tradicional da palavra, tem cheiro de corpo em decomposição, pois o maior de todos os velórios está em andamento. No entanto, a postura contrária é dominante: uma prisão, uma cegueira diante do excesso das luzes — típica de um homem sem passado, ávido pelo futuro, e sem coragem, ávido por um consolo.

Eu, sem caráter

Sem caráter, como pode? Se caráter for um conjunto de características — aquilo que “define”, ou melhor, as máscaras mais usadas por alguém —, não existirá um homem sem caráter. Podemos ter “bons”, “maus”, “belos” e “feios” caracteres. Mas a expressão sem caráter significa: sem caráter “bom”. Eu não sou “bom” — nem mesmo “mau”. Então, até faz sentido ser um sem caráter.

Máscaras resistentes

Dar outra forma ao caráter, assumir um novo papel na vida — que tarefa difícil é essa! Como não há nada imutável, máscaras são trocadas ao longo de uma vida. Mas existe aquela muito arraigada, firme como um tronco que não se deixa arrancar pelo rio da vida. Somente uma enorme força pode arrancá-la! Na vida, na maior parte das vezes, cometemos o erro em acreditar numa mudança profunda. Dedicamos elogio à mudança. Mas a velha máscara permanece, e nos decepcionamos em ainda encontrá-la. Pois somente uma enorme força — não a fraqueza — pode dar outra forma ao caráter.